Vestes litúrgicas para os ministros?
As vestes litúrgicas com suas formas especiais e cores variadas, são sinais para o povo e para os próprios ministros de que eles agem aqui e agora em nome e na pessoa de Cristo e da Igreja. Indicam ainda a diversidade dos serviços prestados na celebração através do ministro." Por esta afirmação do documento 43 da CNBB, "Animação da vida litúrgica no Brasil", em seu número 146, já podemos perceber a importância das vestes, não só na nossa vida cotidiana, como também na liturgia, seja para os ministros, seja para o povo celebrante, que veste o melhor para ir à festa...
Ione Buyst tem um interessante artigo sobre o assunto na Revista de Liturgia 117 - Maio/Junho 1993, onde nos fala das roupas que usamos, adequadas ao tempo, à função, à festa, roupa comum ou domingueira, roupa social ou caseira, enfim, para cada ocasião, um tipo de roupa, que nos marca e caracteriza de alguma forma. Somos o que vestimos... a roupa tem a ver com a nossa identidade, nos diz a autora. E José Aldazábal completa bem nos seus Comentários à "Instrução Geral do Missal Romano" - Paulinas, à pág. 196: Não é indiferente o modo de vestir de uma pessoa, tanto na vida social como na celebração cristã. Às vezes, ainda que aqui não se fale disso, são os mesmos fiéis os que se "revestem" de um modo especial: profissões religiosas, bodas, a veste nova dos batizados, ordenações.
A própria Instrução Geral do Missal Romano (IGMR) nos diz, em seu nr. 335: "Na Igreja, que é o corpo de Cristo, nem todos os membros desempenham a mesma função. Esta diversidade de funções na celebração da Eucaristia manifesta-se exteriormente pela diversidade das vestes sagradas, que por isso devem ser um sinal da função de cada ministro. Importa que as próprias vestes sagradas contribuam também para a beleza da ação sagrada. As vestes usadas pelos sacerdotes, os diáconos, bem como pelos ministros leigos, são oportunamente abençoadas antes que sejam destinadas ao uso litúrgico, conforme o rito descrito no Ritual Romano." (Sobre as Vestes Sagradas e outros objetos usados na Igreja, veja-se a IGMR, do nr. 335 ao 351).
Há ainda muita dúvida e discussão em torno do uso ou não das vestes pelos ministros na celebração: clericaliza os leigos... separa-os do povo... se revestem de poder... Estes e outros são medos infundados. Aldazábal responde: Suas vestes não são sinais de poder ou de superioridade: são símbolos que recordam a todos, em primeiro lugar a eles mesmos, que agora não estão atuando como pessoas particulares, mas como ministros "in persona Christi" e também "in persona Ecclesiae" e que, portanto, não são "donos" nem da celebração nem da comunidade, senão ministros. (p. 197) Quem celebra é toda a Igreja; a assembleia celebrante é o sujeito da oração. E Ione Buyst concorda, afirmando que as vestes podem expressar poder ou serviço, dependendo mais de quem o exerce do que da veste em si. Hoje, a Igreja valoriza, reconhece e incentiva os ministérios leigos: leitores, salmistas, animadores do canto, acólitos, comentaristas, ministros da comunhão e muitos outros, reconhecendo a diversidade de dons, carismas e ministérios. E a maior diversidade de modelos e cores nas vestes revela uma sadia e há muito tempo esperada evolução em direção à inculturação. (Revista de Liturgia 117 - Maio/Junho, p. 5)
Experiência muito interessante é relatada na mesma Revista, pelo Pe. Jacques Trudel, SJ, com sua comunidade de Mustardinha, na periferia do Recife, a respeito do uso das vestes para os ministros e ministras, na celebração festiva da Eucaristia, diversificadas conforme as funções. Tive o privilégio de participar de uma Celebração Eucarística dominical, há alguns anos, quando lá cantei com o povo, e perceber a variedade e o colorido bonito, festivo, das vestes de quantos exerceram algum ministério especial, a começar pelos movimentos ritmados dos jovens que acompanharam o canto processional da entrada e das oferendas, assim como o Glória e outros cantos rituais. As vestes litúrgicas favorecem momentos de grande beleza e dão solenidade à ação litúrgica, sendo expressão do sagrado, símbolo do mistério celebrado, tendo um valor sacramental. Segundo Pe. Jacques, "é importante que quem exerce um ministério litúrgico na missa, tome efetivamente um lugar no presbitério, ao lado do presbítero que o preside... evitando assim que o padre fique isolado do povo, deixando evidente que a Igreja é comunhão", e toda ela, ministerial.
Embora os documentos da Igreja orientem para o uso das vestes litúrgicas, elas não deveriam ser obrigatórias, "respeitando as situações locais, em particular as comunidades de base e capelas pequenas, onde o uso da veste não é muito adequado", conforme Pe. Jacques. As vestes, litúrgicas ou não, devem ser bonitas e dignas, de bom gosto, adequadas ao ambiente sagrado e ao culto. Para concluir, é de novo o Documento 43 da CNBB que nos esclarece, em seu nr. 147: Na confecção das vestes, deixa-se campo aberto à criatividade artística, que sabe respeitar o decoro do culto e a expressão de nossa cultura.
Ir. Miria T. Kolling